segunda-feira, 26 de maio de 2014

CHINA E RÚSSIA: UM ACORDO IMPORTANTE, MAS NÃO TANTO ASSIM

Há uma semana, Xi Jinping e Vladimir Putin firmaram um acordo energético de grande importância estratégica: um contrato de fornecimento de gás russo para a China que prevê o suprimento de gás natural para os próximos 30 anos, devendo movimentar aproximadamente U$400 bilhões e investimentos na construção de oleodutos e outras infraestruturas da ordem de US$75 bilhões. Por conta de sua complexidade, o acordo demorou 10 anos para ser alcançado. Do ponto de vista econômico, ele beneficia ambas as partes: a Rússia, por ampliar o seu leque de clientes, e a China, por garantir um recurso estratégico para seu contínuo processo de desenvolvimento, ainda mais quando o modelo econômico se desloca do foco nas exportações para a ampliação do mercado interno.

A mídia tem dado um destaque especial, aludindo a uma aliança estratégica, por conta dos problemas políticos que envolvem a Rússia nas terras ucranianas. Frente às sanções econômicas dos países da OTAN e também por conta da grande dependência que a Rússia tem de seus clientes ocidentais, o acordo é visto como uma mudança no eixo estratégico da política mundial, uma vez que isto poderia levar a uma suposta aliança sino-russa contra as potências ocidentais, particularmente os Estados Unidos.

Esta especulação é reforçada pela ampliação das atividades políticas e diplomáticas dos Estados Unidos na Bacia do Oceano Pacífico. Em 2011, Hilary Clinton anunciou com pompas a nova estratégia de Washington denominada “Um século dos Estados Unidos na Ásia-Pacífico”, indicando a reorientação das prioridades do país do Oriente Médio para essa região do mundo. Desde então, os EUA estão reforçando sua posição de “pivot” na Ásia, buscando contrapor-se ao aumento da influência chinesa. Por conta disso, os EUA estimulam as negociações para a Parceria Trans-Pacífico (TPP), um amplo acordo comercial que envolve os dois lados do Pacífico, mas que exclui a China, e vem oferecendo respaldo para Japão, Coréia do Sul, Filipinas, Vietnam e Malásia em suas disputas territoriais contra a China no Mar da China. Além disso, criaram a 3-E Initiative (Iniciativa de Expansão do Engajamento Econômico Estados Unidos-ASEAN), para reforçar os laços com os países do Sudeste Asiático.

Aparentemente, ambos os problemas, a Ucrânia, para a Rússia e o “pivot” dos Estados Unidos, para a China, poderiam levar os governos russo e chinês para a formação de uma aliança antiocidental que viesse a fortalecer o eixo euroasiático. No entanto, por mais que melhorem as relações entre os grandes vizinhos, não é plausível, e nem palpável, uma coalizão com estes objetivos. Diferentemente da época da Guerra Fria, China e Rússia estão fortemente engajados na economia mundial e não teriam interesse em abalar a ordem internacional. Pelo contrário, teriam interesse em democratizar a ordem no sentido da criação de um mundo multipolar dentro das regras do jogo. A China, especificamente, excetuando os casos pontuais de Paquistão e Coréia do Norte, não se predispõe a entrar em alianças permanentes, fosse com a Rússia, fosse com os Estados Unidos. A preocupação do Império do Meio não é outra senão a de garantir uma ordem internacional estável para que todos os seus esforços sejam destinados ao seu “Desenvolvimento Pacífico”. Ainda é cedo para concluir que um acordo comercial possa significar uma reviravolta na política mundial. O acordo energético é importante, mas nem tanto assim...

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