terça-feira, 19 de novembro de 2013

THE ECONOMIST, A GRANDE MÍDIA BRASILEIRA E O TERRORISMO INFLÁCIONÁRIO

Quando se observa com atenção as fortes pressões sobre o governo federal e sobre o Comitê de Política Monetária (COPOM) para a elevação das taxas de juros, nota-se que a essência da pressão não se restringe ao combate da inflação. Por mais que a elevação das taxas de juros possa ter influência na demanda agregada, a experiência brasileira em muitos momentos apontou para uma situação paradoxal: na maior parte do governo Fernando Henrique Cardoso as taxas de juros eram extremamente elevadas, alcançando 49.5% no final de 1998, e nem assim o governo conseguiu manter a taxa de inflação dentro das metas por ele estabelecidas.

O cerne da questão é que a elevação da taxa básica de juros implica uma maior remuneração ao capital rentista, aquele que aposta sua riqueza na valorização não produtiva. Ao invés do esquema de valorização produtiva (D-M-D´), nota-se o esquema especulativo (D-D`), tal como definira Marx.

Não à toa, em setembro de 2013, uma reportagem de capa da revista britânica The Economist se mostrava muito pessimista com relação à economia brasileira, depois de mostrar o Cristo Redentor decolando, em 2009, ao sugerir a emergência do país. A pergunta da capa era: “O Brasil estragou tudo?”, fazendo alusão aos supostos erros de política econômica que haviam inviabilizado a decolagem da economia brasileira.

Quando se faz uma análise de conjuntura, é importante conhecer melhor os atores envolvidos na tessitura dos fatos. De um lado está um governo de centro-esquerda, apoiado por uma ampla coalisão partidária e com maiores preocupações sociais e industrialistas. Do outro lado, a grande mídia, nacional e estrangeira, capitaneada pela The Economist. Afinal, cabe perguntar, a revista inglesa representa quais interesses?

Para responder a esta questão, retornemos à sua fundação, em 1843, quando a revista já defendia um ponto de vista liberal sobre política e economia, atacando naquela época as Corn Laws, porque estas protegiam os interesses da agricultura em detrimento da acumulação industrial e das finanças. Desde então, ela se tornou a porta-voz dos interesses da haute bourgeoisie e da haute finance inglesas, especificamente da London City, espaço da cidade que ainda hoje concentra as empresas financeiras. Mesmo com a ascensão de Wall Street como a principal praça, a revista inglesa não perdeu seu prestígio, tornando-se então a porta-voz do capitalismo financeiro em escala global.

No entanto, esse poder de pressão dos bancos não se restringe às opiniões vindas da metrópole. Na mídia de todos os países estão enraizados os defensores do interesse do capital financeiro. No caso brasileiro, há uma unanimidade entre a grande imprensa em ancorar sua linha editorial com os postulados liberais. Assim, as criticas do exterior são potencializadas por editoriais, artigos e entrevistas com “especialistas” detratores de políticas econômicas não afinadas com o interesse metropolitano. Logo, torna-se “natural” o papel da grande imprensa em boicotar um projeto que lhe é inconveniente. Seria cansativo reproduzir as centenas de comentários depreciativos nos veículos da grande imprensa. Creio que a opinião de Folha de São Paulo seja esclarecedora:

"O experimentalismo econômico do governo trouxe uma conta indigesta. Menor controle de gastos, aumento desmedido de crédito público e intervencionismo setorial excessivo não levaram à aceleração do crescimento. Ao contrário, minaram a confiança de investidores e consumidores e, até aqui, resultaram em mais inflação". (Folha de São Paulo – 02/10/13)

Conforme ressaltamos, apesar de toda a fundamentação técnica ou o discurso defensor de uma “boa prática econômica”, o que está por detrás da crítica liberal ao governo é a luta por dinheiro: quanto menor a taxa de juros e quanto menor o poder oligopolista das grandes empresas, menor será a remuneração do capital rentista.

A despeito de se concordar ou não com a receita liberal, o fato é que a pressão para aumentar as taxas de juros possuía outra motivação, qual seja, a de garantir a rentabilidade do capital rentista. Façamos uma conta bastante simples, descontando nesta conta qualquer outro “custo”, como a corretagem dos papeis do governo:

Se a taxa de juros SELIC é de 7,25%, como em março de 2013, e a taxa de inflação anualizada era de 6,59%, a remuneração real do capital rentista seria de apenas de 0,66 ao ano! Dito de outra maneira, para os setores acostumados com ganhos fáceis no mercado financeiro, ver seu capital remunerado a uma taxa inferior a 1% AO ANO seria um descalabro.


Logo, minar a estratégia do governo de forçar a migração do capital rentista para a produção estava no centro da campanha midiática. Do ponto de vista do capital financeiro mundial, a situação era pior ainda, visto que, antes da política monetária do governo Dilma, um especulador padrão poderia tomar um empréstimo a juros baixíssimos no mercado europeu ou dos Estados Unidos, investir em títulos brasileiros e ainda sair um robusto ganho.

Então, pode se concluir que a baixa remuneração dos juros no Brasil afastou temporariamente o capital especulativo, o que desencadeou a agressividade dos editores de The Economist e de seus sócios locais.

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