domingo, 29 de dezembro de 2013

ALUNOS SE PREPARAREM PARA AS AULAS, ISSO É MESMO UM MÉTODO MADE IN USA?

Abaixo republico um texto extraído do jornal Folha de São Paulo sobre um "novo método" de ensino em que os estudantes universitários já venham para a aula preparados, com a leitura prévia de textos. O papel do professor, nesse caso, seria apenas de coordenar os debates, buscando levar os alunos à reflexão. Se isso é feito em forma de círculos, colmeias ou coisas assim, não importa. Onde isto é novidade? Não é uma questão de método, é uma questão de postura.

O fato é que a qualidade dos alunos de instituições de ensino superior, os da Unesp, INCLUSIVE, é sofrível. Conservei com alguns alunos de haviam retornado de intercâmbio na França e eles me disseram que em Lille a carga de leitura era pesada. Pois bem, perguntei a eles, e aqui não é? O problema é que aqui vocês não leem texto algum, respondi a eles. Nessa conta de mediocridade, grande parte de meus colegas professores apenas assistem passivos a essa situação, talvez até eu mesmo, em algum momento... isso quando não são cúmplices desse crime contra a sociedade.

Se o professor lecionar numa instituição privada e cobrar leitura prévia dos alunos e se esses se revoltarem contra o método "mágico", o professor não dura até o final do semestre. Instituições privadas gostam de clientes satisfeitos, mesmo que saiam néscios de suas salas de aula.

O Brasil é o país do "faz de conta". Como podemos ser dinâmicos e líderes em pesquisas científicas e tecnológicas se a qualidade moral de nosso povo, em grande parte, deixa a desejar? Como formar um grande especialista em Relações Internacionais se, na prática, ele não estuda mais do que três horas por dia se fizer o curso no horário noturno?

Não me canso de falar para meus alunos: independentemente do que eles fizerem ou souberam, o mundo deles estará garantido por conta de sua origem familiar, da cor da pele e da textura do cabelo. Como são brancos de classe média e estudaram em colégios particulares, já possuem a rede de relações que irá garantir a sua existência de maneira bem melhor do que a da massa da população brasileira que, diga-se de passagem, também não "boa bisca", como diria a operária italiana, já que tem as mesmas características morais da elite que a detesta, com raras exceções.

Leiam o texto da Folha:


Faculdades privadas modernizam aulas com método dos EUA
Algumas instituições brasileiras têm trocado a tradicional exposição do professor pelo debate entre alunos em sala

Formato inspirado nas aulas da Universidade Harvard (EUA) deve se espalhar pelo país, dizem educadores

FÁBIO TAKAHASHI
DE SÃO PAULO
Estudantes em filas, professor à frente, explicação na lousa ou no projetor. É tudo que algumas faculdades particulares têm buscado evitar em seus cursos de graduação.

Há pouco mais de um ano, ao menos quatro instituições brasileiras adotaram metodologias em que os estudantes precisam ler textos ou ver vídeos antes das aulas, para terem um conhecimento básico prévio do conteúdo.

Nas aulas há debates entre os alunos, e não a convencional exposição do professor. A tradicional escola Belas Artes de São Paulo foi uma das que adotou o método.

Educadores afirmam que o formato, inspirado em aulas da Universidade Harvard (EUA), deve se espalhar pelo país, ainda que haja dificuldades de implementação.

Na nova metodologia, ao professor cabe apresentar temas a serem debatidos e acompanhar se as conclusões dos alunos caminham para a direção correta.

Os alunos são distribuídos em mesas redondas de oito lugares cada uma, em geral. O grupo deve apresentar resposta a uma pergunta posta pelo docente --que conduz as discussões até que todos saibam a alternativa certa.

Um dos métodos, chamado "peer instruction" (formação por pares), foi criado pelo professor Eric Mazur, que leciona física em Harvard.

Ele estava incomodado com o fato de que poucos docentes conseguiam prender a atenção dos estudantes por uma aula inteira --problema que atinge cursos superiores no mundo todo.

Pesquisas de Mazur mostram que, com o novo formato, os alunos fixam melhor conteúdos e ganham capacidade de resolver problemas.

ATUALIZAÇÃO

"As aulas precisam ser mesmo atualizadas", disse o consultor de ensino superior Roberto Lobo, ex-reitor da USP. "Mas os temas a serem abordados devem ser bem administrados, senão, os alunos ficam com lacunas".

Diretor acadêmico da Unipac (MG), Gustavo Hoffmann afirma ser essencial, no novo formato, que o aluno se prepare antes das aulas. "No modelo tradicional, os professores até podem pedir leitura prévia. Mas a aula ocorre normalmente se o aluno não se preparar", afirma.

"No novo modelo, não se consegue debater algo sem que você tenha uma base."

O preparo prévio exige cerca de uma hora por dia do aluno. Os cursos são presenciais, ou seja, ao menos 80% da carga horária tem de ser cumprida na faculdade.

"No começo, ficamos preocupados", disse José Augusto dos Santos Dias, 23, que teve a nova metodologia em algumas matérias do curso de direito da Unisal (Lorena-SP). Um dos conteúdos que ele estudou no sistema foi quais recursos poderiam ser impetrados para cada decisão judicial. "No final, gostei."

A inclusão da nova metodologia nas grades curriculares varia entre as faculdades. As mesmas instituições também têm adotado outras modalidades parecidas ao "peer instruction", como a resolução de problemas.

Neste caso, o professor apresenta um problema real, enfrentado por uma instituição, e os alunos têm de apresentar soluções. Depois, compara-se com a solução adotada no caso concreto.

"A ideia é evitar que o aluno vá para a aula apenas para ouvir o professor. Hoje, ele deve ser ativo", disse Marcilene Bueno, da área de novas metodologias da Unisal.




quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

UMA MULTIPOLARIDADE DIFERENTE: O JAPÃO TENTA SAIR DA TUTELA DOS ESTADOS UNIDOS

BBC: http://www.bbc.co.uk/news/world-asia-25411653
17 December 2013 Last updated at 12:28 GMT

Japan boosts military forces to counter China

Japan's cabinet has approved a new national security strategy and increased defence spending in a move widely seen as aimed at China.

Over the next five years, Japan will buy hardware including drones, stealth aircraft and amphibious vehicles.

The military will also build a new marine unit, an amphibious force capable of retaking islands.

The move comes with Tokyo embroiled in a bitter row with Beijing over East China Sea islands that both claim.

'Transparent'

Japan first increased defence spending in January, after a decade of cuts.

Prime Minister Shinzo Abe, who was elected a year ago, has called for Japan to broaden the scope of activities performed by its military - something currently tightly controlled by the post-war constitution.

He has also established a National Security Council that can oversee key issues.

Approving the national security strategy made Japan's foreign and security policy "clear and transparent - for both the Japanese people and all the world to see", he said.

Spending over the five years is expected to amount to 23.97 trillion yen ($232bn, £142bn), a rise of 2.6% once billions of yen in cost savings are taken into account.

Japan plans to buy anti-missile destroyers, submarines, 52 amphibious vehicles, surveillance drones, US fighter planes and 17 Boeing Osprey aircraft, capable of vertical take-off.


Nationalist dreams

The announcement of more Japanese military spending comes weeks after China established an air defence identification zone (ADIZ) over a swathe of the East China Sea, including islands controlled by Japan.

It says all aircraft transiting the zone must obey certain rules, such as filing flight plans, or face "measures".

Japan, US and South Korea - which claims a rock that lies within China's declared zone - have strongly criticised the move, with the US calling it "an attempt to unilaterally change the status quo" in the region.


Japan's new military strategy explained in 60 seconds

In its latest expression of concern, the US has warned China against establishing another ADIZ over the South China Sea.

Speaking at a news conference in the Philippines, Secretary of State John Kerry said the East China Sea zone should not be implemented and "China should refrain from taking similar, unilateral actions elsewhere in the region and in particular, over the South China Sea."

China had already criticised the outlines of Japan's defence policy and says it is "closely watching Japan's security strategy and policy direction".

Japan's military shopping list

Two destroyers equipped with Aegis anti-missile system
Five submarines
52 amphibious vehicles
28 F-35 fighter planes
17 vertical take-off Boeing Osprey aircraft
Japan ranks fifth in the world for military spending, according to the Stockholm International Peace Research Institute, while China is in second place behind the United States.

Mr Abe's government says the strategy is a measured and logical response to a real and increasing threat, reports the BBC's Rupert Wingfield-Hayes in Tokyo.

But many on the left in Japan think Mr Abe is using the threat from China to pursue his own nationalist dreams, our correspondent adds.


COMENTÁRIOS

O reaparelhamento militar japonês pode ser identificado sob três aspectos:

1) Uma tática visando fazer frente à emergência econômica e militar da China;

2) A tentativa da elite japonesa de viabilizar os meios de sair da tutela imposta pelos Estados Unidos desde o final da II Guerra Mundial;

3)Reativar a economia do país por meios de gastos militares.

Independentemente dessas questões, o resultado disso só pode ser a reemergência do Japão como Potência "de facto" na Ásia Pacífico e a estruturação de uma ordem mundial multipolar, já que as opções para a suplantação da hegemonia dos EUA ainda são um projeto.



sábado, 21 de dezembro de 2013

GOLPE DO JUDICIÁRIO... MAIS UM

Faz alguns dias que eu postei aqui a denúncia de golpes brancos desferidos contra as instituições democráticas por parte do Poder Judiciário. Sem votos populares, a elite faz da justiça a sua trincheira contra os governos populares. Naquele momento mencionava a destituição do prefeito eleito de Bogotá pelo Procurador Geral da Colômbia.

O mais novo golpe se no Brasil, por conta da discussão sobre a reestruturação da cobrança do IPTU na cidade de São Paulo. A FIESP e os partidos de oposição foram à justiça para vetar a progressividade do imposto, isentando os mais pobres e cobrando mais daquela parcela da população que está usufruindo dos ganhos da ENORME especulação imobiliária, chamada pelo Professor Samy Dana, com propriedade, de Bolha Imobiliária.

A discussão chegou ao stf e, pelos mãos de seu presidente, anulou a medida democraticamente adotada pela Câmara Municipal de São Paulo. Entretanto, conforme é definido pelo artigo 156 da Constituição de 1988, que caracteriza o IPUTU como imposto municipal, ou seja, somente os municípios têm competência para aplicá-lo. No Brasil, o IPTU costuma ter papel de destaque entre as fontes arrecadatórias municipais, figurando muitas vezes como a principal origem das verbas em municípios médios, nos quais impostos como o ISS (Imposto Sobre Serviços, outro imposto municipal brasileiro de considerável importância) possuem menor base de contribuintes.

O sft imiscuir nesta questão é golpe, mais um daqueles perpretrados pelo titular do órgão.

Lamentável!

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

A mão que toca um violão: sobre a clareza na informação

Como historiador, aprendi que uma fonte não deve ser tratada de forma isolada. Ela deve ser colocada num contexto e cada fragmento deve ser analisado à luz do interesse de quem a criou. De forma similar, aplicando essa premissa aos princípios da comunicação, uma mensagem não deve ser analisada somente à luz do seu emissor, mas, principalmente, na perspectiva do receptor. Há momentos em que julgamos que nossas mensagens são claras e inequívocas, mas para o receptor podem ser objeto de dúvidas e angústias.

Faz inveja a linguagem da diplomacia. Em momentos de grande tensão, podem ser reafirmados princípios sem se colocar “lenha na fogueira”. Na outra direção, o discurso “low profile” busca a refrear a euforia de uma vitória retumbante por meio de uma mensagem conciliadora que chega aos ouvidos dos derrotados como um bálsamo. Uma mensagem dura pode ser enviada por gestos: em meio às turras com a espionagem dos EUA, a diplomacia brasileira mandou um recado duro ao destacar diplomatas do “segundo escalão” para o almoço de despedida do embaixador Thomas Shannon. Por mais que o ex-embaixador seja uma pessoa cordial, o recado foi enviado ao Departamento de Estado norte-americano.

Neste momento de balanço e reflexão por conta das festas de final de ano, é importante refletir sobre a força das palavras. Aos ouvidos calejados pela dor, uma palavra amiga pode ser compreendida como zombaria ou menosprezo. Aprendi recentemente que devo ler e reler uma mensagem e escolher melhor as palavras para que elas cheguem aos ouvidos do interlocutor com a pureza que a gente imagina ter.

Viola Enluarada, de Marcos Valle nos faz refletir sobre isto, a mesma mão que toca o violão pode empunhar um punhal:



Viola Enluarada

A mão que toca um violão
Se for preciso faz a guerra,
Mata o mundo, fere a terra.
A voz que canta uma canção
Se for preciso canta um hino,
Louva à morte.
Viola em noite enluarada
No sertão é como espada,
Esperança de vingança.
O mesmo pé que dança um samba
Se preciso vai à luta,
Capoeira.
Quem tem de noite a companheira
Sabe que a paz é passageira,
Prá defendê-la se levanta
E grita: Eu vou!
Mão, violão, canção e espada
E viola enluarada
Pelo campo e cidade,
Porta bandeira, capoeira,
Desfilando vão cantando
Liberdade.
Quem tem de noite a companheira
Sabe que a paz é passageira,
Prá defendê-la se levanta
E grita: Eu vou!
Porta bandeira, capoeira,
Desfilando vão cantando
Liberdade.
Liberdade, liberdade, liberdade...

Para os meus amigos, espero que minhas palavras sejam o mais perfeito invólucro de minhas ideias. Pois para meus amigos, só tenho o desejo de coisas boas, justas e sinceras.

Tudo de bom em 2014!

domingo, 15 de dezembro de 2013

MAIS UM GOLPE BRANCO NA AMÉRICA LATINA

Se há algo que desperta o ódio da elites latino-americanas é o voto popular. Com liberdades democráticas, o povo pode escolher os políticos que mais bem representam os seus interesses.

A eleição de Lula, sua reeleição e a vitória de Dilma Rousseff em 2010 estão atravessados na garganta das elites como um espinho que não para de doer. Ao se confirmar as pesquisas eleitorais, há uma grande chance de reeleição de Dilma em 2014, fato admitido pelo Presidente do Grupo Itaú, Roberto Setúbal.

O ódio provocado nas elites pela eleição de governos progressistas e a extemporaneidade de golpes militares fazem com que a direita busque um novo tipo de virada de mesa: a judicialização da política.

A tática é sempre a mesma: a imprensa cria um fato político que tumultua o debate político; os partidos de oposição buscam abrigo na justiça (com "j" minúsculo) e iniciam processos viciados contra os seus inimigos "populistas". Sob tiroteio da mídia (ou coisa pior) os juízes e procuradores vão para cima dos "populistas" e encontram um argumento qualquer para perpetrar o golpe. Assim foi em Honduras. Assim foi no Paraguai. Assim foi no Brasil no caso do "mensalão".

A mais nova investida desse modelo de "golpe branco" foi desfechada contra o prefeito progressista de Bogotá. Sob acusação de de cometer faltas gravíssimas e de forma dolosa quanto tentou, em 18 de dezembro de 2012, mudar o sistema de limpeza urbana da capital colombiana, tirando o serviço de empresas privadas para entregá-lo a uma pública, a Procuradoria-Geral do país cassou o mandato do Prefeito Gustavo Petra, ex-guerrilheiro do M-19 que abandonou a luta militar pela luta democrática.

A consciência democrática da América Latina não pode se calar frente a mais esta arbitrariedade.

Trago aos leitores a reportagem completa de El Pais, de 14/12/2013:


Milhares vão às ruas na Colômbia contra a destituição do prefeito da capital

Gustavo Petro exige explicações da Presidência sobre o que considera "golpe de Estado" e pede que “indignados” continuem se mobilizando pela paz e a democracia
Disponível em: http://brasil.elpais.com/brasil/2013/12/14/internacional/1387034064_939008.html

Perante uma multidão mobilizada para se manifestar contra sua destituição como prefeito de Bogotá, o que pode representar a sua morte política por acarretar a cassação de direitos políticos durante 15 anos, Gustavo Petro pediu ao presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, que intervenha no que considera um “golpe de Estado”.

“Que o presidente da República – para defender a paz na Colômbia – saia em defesa da Convenção Interamericana de Direitos humanos, saia em defesa da Constituição que atribui a ele, e não ao procurador-geral, [a autoridade para determinar] a destituição do prefeito, e saia em defesa da lei da República, da lei de Bogotá”, disse o mandatário municipal na noite desta sexta-feira na emblemática praça de Bolívar, em pleno centro de Bogotá, a poucas quadras do palácio presidencial, enquanto seus seguidores gritavam “Petro, não se vá!”. Ele também insistiu para que Santos se pronuncie de maneira imediata. “É o momento de atuar, é o momento de se fazer a paz”, disse Petro.

A Procuradoria-Geral colombiana destituiu Petro na última segunda-feira e o inabilitou de exercer cargos públicos pelos próximos 15 anos, sob a acusação de cometer faltas gravíssimas e de forma dolosa quanto tentou, em 18 de dezembro de 2012, mudar o sistema de limpeza urbana da capital colombiana, tirando o serviço de empresas privadas para entregá-lo a uma pública, o que gerou caos na coleta de lixo.

A decisão neutraliza ainda um dos mais pujantes líderes da esquerda e um exemplo de reinserção, já que Petro se lançou na política depois de abandonar o movimento guerrilheiro M19. Além de provocar atritos entre o Governo e a procuradoria, o ministro da Justiça, Alfonso Gómez Méndez, já anunciou que revisará as leis que permitem ao Ministerio Público destituir funcionários eleitos por voto popular.

Desde o início desta tarde, milhares de cidadãos começaram a se mobilizar a partir de 17 localidades, convocados pelo prefeito, até encherem por completo a praça que Petro batizou como a “praça da democracia”. Cartazes com mensagens de apoio ao prefeito e contra o procurador-geral Alejandro Ordóñez, que anunciou a destituição dele, tomaram as ruas. Lá estava Leonardo Barbosa, que desde aquele dia se instalou na praça e não a abandonou. “É uma arbitrariedade muito grande, uma decisão arrogante”, disse.

No discurso do prefeito, que se prolongou por duas horas, este afirmou que o procurador Ordóñez violou a lei ao destituí-lo, já que essa atribuição, segundo um artigo da constituição colombiana, é exclusiva do presidente da República, por ser Bogotá uma jurisdição especial. Além disso, ele afirmou que a decisão contra si é ilegal, já que ele não foi condenado por um juiz penal. “Procurador, o senhor não é um juiz”, acrescentou ele em uma das sacadas do Palácio Liévano, sede da prefeitura, insistindo que não se pode cassar os direitos políticos de quem se elegeu pelo voto popular, com mais de 700 mil sufrágios, no seu caso.

Petro mencionou o Estatuto Orgânico de Bogotá, que também determina que cabe apenas ao presidente destituir o prefeito da capital, e alertou que a sua cassação viola a Convenção Interamericana de Direitos Humanos. Ele anunciou que, se o presidente Santos autorizá-lo, na próxima semana se reunirá com o secretário-geral da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), atendendo a um convite dessa organização. “E terá início a sua reflexão sobre a sentença administrativa que eu considero um golpe de Estado”.

Durante toda a semana, o prefeito de Bogotá, que continuará exercendo seu mandato até que se ratifique a sentença da Procuradoria, criticou Ordóñez fortemente, e na sexta-feira o acusou também de “esvaziar as competências constitucionais do presidente, porque quer jogar fora a possibilidade da paz”, conforme disse, fazendo um apelo pela aposta na democracia.

Também advertiu Santos de que, com sua cassação, o procurador Ordóñez está mandado uma mensagem de que a democracia é “descartável”. “Estão nos dizendo que homens que pegaram em armas e escolhem o caminho da democracia [como é o caso dele] não podem governar na Colômbia”, disse, em referência ao processo de paz em curso com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), no qual um dos pontos principais é a participação política dos guerrilheiros eventualmente desmobilizados.

Desde que a destituição foi anunciada, Petro apostou em mobilizar pacificamente os cidadãos da capital para que rejeitem a decisão que o afastaria do segundo cargo mais importante do país. A mobilização da sexta-feira contou inclusive com a presença da Guarda Indígena, que chegou do departamento (estado) do Cauca para apoiar Petro e proteger a sede da prefeitura. Petro chama de “indignados” os que responderam à sua conclamação, e lhes pediu que continuem mobilizados.

Santos, por sua vez, afirmou na sexta-feira, antes do discurso do prefeito, que se reunirá separadamente com Petro e com os organismos de controle (Procuradoria-Geral, Controladoria e Ministério Público) para superar a crise “dentro da institucionalidade”. É a primeira vez que o mandatário nacional se pronuncia sobre a destituição do prefeito, fato que gerou toda uma polêmica nacional e internacional sobre a autoridade da Procuradoria para cassar um funcionário eleito pelo voto direto. Santos reiterou que respeita as decisões dos organismos de controle, assim como o direito de Petro de se defender.

O rebuliço também incluiu o futuro embaixador dos Estados Unidos na Colômbia, Kevin Whitaker, que, na quarta-feira, se referiu à destituição do prefeito dizendo que poderia “erodir” o processo de paz. Whitaker falava da possibilidade de que alguns setores concluam que não está sendo respeitado o pluralismo político, já que Petro é um líder esquerdista que pertenceu no passado à guerrilha M-19. Isto gerou incômodo no governo colombiano, que criticou a intervenção em assuntos internos. Em resposta, o Departamento de Estado esclareceu que Whitaker queria dizer que “a Colômbia tem uma democracia vibrante, em que o pluralismo político é essencial”.

Algo semelhante ocorreu com a intenção do representante das Nações Unidas na Colômbia, Todd Howland, de querer analisar a decisão contra Petro. O governo, por intermédio do ministro do Interior, Aurelio Iragorri, disse que os organismos internacionais não existem para tomar partido.

Agora, resta ver o que Santos dirá a respeito do encontro já marcado entre Gustavo Petro e a CIDH.

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Fracassa lançamento de satélite brasileiro em parceria com a China

MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A KELAN (CHINA)

Ouvir o texto
Atualizado às 08h35.

Fracassou nesta segunda-feira a tentativa de colocar em órbita o satélite CBERS-3, o quarto lançado pelo programa de observação da Terra que o Brasil mantém em parceria com a China.

Informações preliminares apontam uma falha no foguete que efetuou o lançamento. Ainda não se sabe o que provocou o problema. O foguete caiu no polo Sul.

O lançamento, realizado na base de Taiyuan, no norte da China, aconteceu no horário previsto, à 1h26 (horário de Brasília) desta segunda-feira.

Inicialmente, as informações eram de que tudo ocorrera bem. Mas cerca de uma hora depois do lançamento, os responsáveis chineses informaram que o satélite não entrou em órbita.

A presidente Dilma Rousseff já tinha pronto um comunicado para parabenizar o sucesso da operação, mas foi informada por telefone do fracasso do lançamento do foguete.

O clima é de frustração na delegação brasileira que viajou para acompanhar o lançamento. Entre eles, o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, e o ministro de Ciência e Tecnologia, Marco Antonio Raupp.

Raupp disse que o plano agora é antecipar para 2014 o lançamento do Cbers-4, previsto para 2015. Os equipamentos estão prontos, mas técnicos do Inpe acham improvável que a integração da parte chinesa com a brasileira seja concluída em menos de 14 meses.

O custo do lançamento foi de US$ 15 milhões. O modelo do foguete chinês utilizado foi o Longa Marcha 4B. Esse modelo já fez 34 lançamentos de satélites com 100% de sucesso.

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Brasil e China lançam 4º satélite juntos

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cienciasaude/142274-brasil-e-china-lancam-4-satelite-juntos.shtml


CBERS-3, novo modelo usado para observação da Terra, vai ao ar na segunda após dois anos de pausa em programa

Câmeras vão monitorar desmate, safra agrícola e alterações urbanas; embargo comercial dos EUA fez projeto atrasar

RAFAEL GARCIA
ENVIADO ESPECIAL A SÃO JOSÉ DOS CAMPOS
Um foguete deve decolar na madrugada da próxima segunda-feira colocando em órbita o satélite CBERS-3, o quarto lançado pelo programa de observação da Terra que o Brasil mantém em parceria com a China.

O novo orbitador possui quatro câmeras diferentes -- uma a mais do que a versão anterior (o CBERS-2B), que parou de operar em 2010. Desde então, o Brasil está sem meios próprios de observar seu território do espaço.

Durante esse período, programas importantes --como os de monitoramento do desmatamento na Amazônia-- vêm dependendo exclusivamente da compra de imagens geradas por satélites estrangeiros, como os americanos Landsat, Terra e Acqua.

O novo satélite CBERS não dá ao Brasil independência total para monitorar seu território, mas deve tornar a fiscalização mais eficaz.

Segundo José Carlos Epiphanio, coordenador de aplicações do CBERS, a nova câmera de grande campo de visão usada pelos satélites do programa, a WFI, será capaz de fazer imagens de toda a Amazônia a cada cinco dias com resolução de 64 metros. "Isso vai ser de grande utilidade para o Deter, o sistema de combate ao desmatamento em tempo real", afirma.

Hoje o Deter já conta com imagens mais rápidas do Acqua e do Terra, mas sem resolução tão boa.

A WFI e os outros componentes brasileiros do satélite foram desenvolvidos pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), que também opera o satélite, em parceria com os chineses.

A principal inovação do novo CBERS em relação ao modelo 2B é a câmeran PAN, que tem um sensor de alta resolução móvel capaz de apontar para os lados e fotografar locais fora da trilha de órbita do satélite. Por isso, ela deve ser útil no monitoramento de desastres imprevistos.

Já a MUX, câmera padrão do CBERS, fará imagens cobrindo todo o território do Brasil e da China com resolução de 20 metros, automaticamente, a cada 26 dias. Todas as imagens ficarão disponíveis on-line gratuitamente.

EMBARGO AMERICANO

O lançamento do CBERS-3 estava previsto originalmente para 2011, mas atrasou dois anos em razão de imprevistos no desenvolvimento de tecnologias que o Brasil ainda não dominava, diz Leonel Perondi, diretor do Inpe.

Um dos problemas foi o Itar, um decreto do governo dos EUA que proíbe empresas americanas de vender componentes espaciais para projetos de cooperação com a China.

O Inpe havia acertado a compra de conversores de corrente elétrica americanos, que não eram peças consideradas de uso espacial. Quando o Inpe estava prestes a obter os componentes, o governo americano resolveu inclui-los na lista do embargo, e o Brasil teve de encontrar outro fornecedor. "Só isso já representou um atraso de um ano", afirma Perondi.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Retirado de El Pais: O grande amigo de Mandela nas Américas foi Fidel Castro

http://brasil.elpais.com/brasil/2013/12/06/internacional/1386296516_464455.html


O ex-presidente sul-africano sempre se mostrou agradecido pela ajuda militar que prestou Cuba ao país na luta contra o apartheid
FRANCISCO PEREGIL Buenos Aires 6 DEZ 2013 - 01:28 BRST

Nelson Mandela era tido como um herói em todo mundo. E na América Latina não foi uma exceção. Em julho de 1998, ele visitou durante três dias a Argentina do presidente peronista liberal Carlos Saúl Menem e foi recebido no aeroporto portenho de Ezeiza com uma salva de 19 tiros de canhão. Em um dos três discursos que fez, ressaltou que o "difícil passado da Argentina" tinha servido de "inspiração" em sua luta contra o apartheid.

Uma das filhas de Mandela, Zenani Dlamini, foi designada em fevereiro embaixadora da África do Sul na Argentina. Zenani, de 55 anos, nada mais chegar a Buenos Aires, explicou ao jornal La Nacíon que não tinha pretensões de exercer a carreira diplomática, mas em janeiro de 2012, o presidente Jacob Zuma disse que convinha que uma Mandela da primeira geração ajudasse a levantar a imagem sul-africana. E a enviou a Buenos Aires num período em que Mandela já se encontrava muito doente. Zenani contou que, ao se despedir, seu pai sorriu e disse: “Estou orgulhoso de você.”

Existem associações de direitos humanos em toda a América Latina que levam o nome de Mandela. Mas o país em que mais deixou uma impressão, e com o qual teve mais afinidades afetivas, foi Cuba. E a pessoa de quem mais gostava foi Fidel Castro. Em 1991, poucos meses após sua saída da prisão, Mandela visitou Cuba. Por causa disso, foi criticado dentro e fora do país, mas fez pouco caso. Há um vídeo do encontro entre os dois líderes em que se vê Mandela abraçando Castro e o chamando de “meu irmão”. Castro vestido de terno e gravata e Mandela se expressando em inglês a uma tradutora que vertia para ele as palavras de Mandela em espanhol:

-Uma coisa antes de falar –diz Mandela em pé a Fidel Castro sentado-. Antes de falar absolutamente qualquer coisa me diga quando vai visitar a África do Sul. Uma grande quantidade de pessoas nos visitou e nosso amigo, Cuba, que nos ajudou a treinar nossa gente, que nos deu recursos, que nos ajudou tanto em nossa luta, que treinou nossos combatentes, nossos médicos… Cuba não veio nos visitar, você não foi nos visitar. Quando virá?

-Não visitei a minha pátria sul-africana –reconhece Castro.

-Mas quando vai visitar vir a África do Sul?

-Acho que vai ter que ser hoje mesmo, vou ter que voar contigo - se desculpa Castro, em tom de blague.

Ao longo dos anos a amizade e a admiração que nutriam um pelo outro não diminuiu. “Sou um homem leal e jamais esquecerei que nos momentos mais sombrios de nossa pátria, na luta contra o apartheid, Fidel Castro esteve ao nosso lado”, disse Mandela. Finalmente, Castro pôde viajar à África do Sul em 1994 e foi recebido no Senado com todas as honras. Mandela nunca dissimulou para o mundo seu relacionamento com Cuba.

Quando, em 1998, Mandela recebeu a visita do então presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, o mandatário sul-africano o advertiu que convidou também Castro e o então chefe de Estado de Líbia, Muamar el Gadafi. "Faço isto porque nossa autoridade moral nos dita que não podemos abandonar aqueles que nos ajudaram durante os momentos mais sombrios da história de nosso país, oferecendo recursos e instruções para lutar e ganhar. E aqueles sul-africanos que me têm recriminado por ser leal a nossos amigos, podem, literalmente, ir a catar coquinhos, afirmou Mandela.

Como se sua postura ainda não estivesse clara, Mandela aconselhou Clinton que convocasse seus inimigos, Cuba, Irã e Líbia, para formar uma mesa de negociação e “conversar sobre a paz”. Quinze anos depois, é isso o que Barack Obama está fazendo com o regime iraniano. Naquele dia, Clinton silenciou diante das críticas de Mandela, mas seu conselheiro de Segurança Nacional, Samuel Berger, declarou: "Podemos entender a lealdade de Mandela [a Cuba, Irã e Líbia], mas nossa posição também está baseada em princípios."

Naquela viagem, Mandela mostrou a Clinton a prisão da ilha de Robben, onde permaneceu 18 anos preso e lhe presenteou com uma pedra da pedreira onde cumpriu trabalhos forçados. Depois deu a Clinton a mais alta distinção de África do Sul, a Ordem da Boa Esperança. Antes de Clinton, o último condecorado era Gadafi.

No entanto, Hugo Chávez, o grande amigo de Castro e Gadafi, não cultivou a amizade com o grande libertador dos negros sul-africanos. Mas Nicolás Maduro, o sucessor de Chávez, declarou três dias de luto nacional pela morte de Mandela.

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

O Fascismo “descolado” do Politicamente Incorreto

“Há algo de podre no Reino da Dinamarca”, dizia Shakespeare pela boca do personagem Hamlet, em peça teatral de mesmo nome. A tal conclusão também cheguei depois de passar dias atrás por dois diferentes aeroportos e verificar nas livrarias pilhas de livros que tinham por título algo como “politicamente incorreto” associado à História e Filosofia.

Aparentemente, a moda parece ser coisa inocente e “descolada”, de gente engraçada que não suporta a “ditadura” do politicamente correto. Na prática, é um movimento de extrema direita importando dos Estados Unidos, o chamado “neocon”, que não passa de uma versão moderninha de fascismo.

Esses “descolados”, que surgem com ares de celebridade, vivem de atacar valores caros à democracia, como o respeito à diversidade, a busca pela igualdade e justiça social, a liberdade de crença e também à nossa História. Esse festival de insultos se escora na liberdade de expressão, algo que para eles não deveria ter limites e tampouco ser objeto de questionamentos de ninguém, inclusive das vítimas de seus insultos.

Mas afinal, o que é politicamente correto para ser objeto de ataques tão vis por parte dos “descolados” incorretos? Em síntese, o conceito de politicamente correto surgiu em países mais avançados com o objetivo de garantir a dignidade humana, enxergando nos membros da sociedade a sua essência e tratando de respeitar com ações e palavras aquelas características importantes de cada um, como a cor da pele, a etnia, a cultura, as opções política e sexual, a religião, a deficiência física, etc.

Ao atacar e humilhar uma pessoa ou grupo por uma característica específica o tal politicamente incorreto ataca a própria democracia. Na visão deles, os torturados deveriam rir de suas próprias chagas e congratular-se com seus torturadores incorretos. Isso não é só sem graça, mas é fundamentalmente perigoso, pois ao banalizar valores essenciais da democracia, atenta-se contra a dignidade humana. Isso é fascismo!

Publicado no Jornal Bom Dia Marília de 06/09/2012

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

VERGONHA NACIONAL: BRASIL CONTINUA INDO MUITO MAL EM EXAMES INTERNACIONAIS SOBRE APRENDIZADO

RANKING DE CIÊNCIAS DO PISA 2012

Economias Média
1º - Xangai-Cha 580
2º - Hong Konga 555
3º - Cingapura 551
4º - Japão 547
5º - Finlândia 545
6º - Estônia 541
7º - Cor.do Sul 538
8º - Vietnã 528
9º - Polônia 526
10º - Canadá 525
Média OCDE 501
57º - Jordânia 409
58º - Argentina 406
59º - Brasil 405
60º - Colômbia 399
61º - Tunísia 398
65º - Peru 373

A tabela acima indica a classificação geral do PISA 2013, exame que abrange os conhecimentos de leitura e de matemática. Pode-se concluir que há dois problemas distintos: cultural e de infraestrutura.

Digo cultural por que nota-se a predominância de países asiáticos entre os 10 primeiros colocados. Há uma clara influência do confucionismo e da valorização que estas sociedades conferem à figura do Professor. Veja-se, por exemplo, a colocação do Vietnam nesse ranking. Apesar de ter uma renda per capita bem inferior à média brasileira, o país está bem colocado no exame. A América Latina aparece em situação pior do que países com renda per capita mais elevada.

De outro lado, mostra problemas estruturais, visto que o desempenho dos países de nossa região é medíocre. O investimento é baixo, o professor é pouco valorizado e a sociedade, de maneira geral, não confere à educação um papel importante em suas vidas, preferindo o consumo de bens supérfluos, ou obras "faraônicas", ao investimento contínuo na formação de nossos jovens e crianças.

Quando se pensa no tempo efetivo de aula de um aluno de período noturno, mesmo na universidade pública, nota-se que a quantidade de conhecimento que ele pode adquirir é muito pouco. Quando se pensa na formação do professor de nossas escolas públicas da vontade de chorar... quando se pensa que a escola pública no Brasil se assemelha a uma penitenciária, só podemos olhar o futuro com pessimismo.

Há outros motivos que podem explicar nosso fracasso e merecem ser investigados.

O Brasil é uma país que está em meio de um dilema: a renda per capita é elevada para concorrer com a China e o Vietnam; o conhecimento técnico de sua população é insuficiente para concorrer com economias desenvolvidas. Cabe aí uma pergunta: estamos condenados à mediocridade?

domingo, 1 de dezembro de 2013

A QUEM INTERESSA A INSTABILIDADE POLÍTICA NO EXTREMO ORIENTE?

Desde 2005, o governo chinês tem se esforçado em difundir sua estratégia pacífica de desenvolvimento. Em setembro de 2011, mais uma vez o Conselho de Estado da China (China, 2011) lançou um documento afirmando que a China necessita de um ambiente internacional de paz para garantir o seu processo de desenvolvimento e que não busca nenhuma proeminência, nem a nível regional e tampouco em nível mundial.

Não obstante, em outubro de 2011, no Havaí, a secretária de Estado norte-americana, Hilary Clinton, divulgava uma nova estratégia norte-americana de abandonar a conflitiva região do Oriente Médio para direcionar os esforços militares e estratégicos para a região da Ásia-Pacífico, local de maior potencial econômico e onde poderá ser garantida a sua liderança mundial. Desde então, os norte-americanos ampliaram a presença de tropas no porto de Darwin, na Austrália, e tem dado mostra de apreço aos países que desafiam a China nos conflitos territoriais no Mar da China Meridional.

Nessa região, chineses e outros países da Associação de Nações do Sudeste da Ásia (ASEAN), além de Japão e Coreia do Sul, disputam a posse de arquipélagos onde se presume existir jazidas de minerais estratégicos. Diante deste quadro, é preciso refletir sobre os possíveis desdobramentos desse eventual conflito de interesses entre China e Estados Unidos, além de especular sobre a viabilidade de uma superação de hegemonia dentro da ordem, evitando a ocorrência de perturbações de largas proporções, como ocorrera no período de 1870 a 1914.

É nesse contexto que se insere a mais nova "crise" no Extremo Oriente, desta vez relacionada à diretriz chinesa de incluir as Ilhas Diaoyu (ou Senkaku, para os japoneses) no controle do espaço aéreo chinês. Tal medida, anunciada em 22 de novembro passado, já foi testada com o sobrevoo de aviões norte-americanos sobre a área sem aviso prévio ao controle de voo chinês.

Cabe perguntar: os Estados Unidos estariam interessados em "testar" a estratégia pacífica da China ao agudizar uma relação tão tumultuada como a sino-japonesa? A quem interessaria uma nova Guerra Fria (ou Quente) na região? Os focos de atrito são inúmeros. Há disputas territoriais envolvendo a China com a Índia, com o Vietnam, com a Malásia, com as Filipinas e com o Japão. Ademais, a tensão na Península Coreana é sempre intensa, sendo um problema por si só, assim como o é o "problema" de Taiwan.

Penso que com paz e concentrada no seu crescimento a China não se converte em ameaça aos seus vizinhos. No entanto, ao exacerbar tensões, pode se levar a um improvável conflito de proporções catastróficas.