quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

A mão que toca um violão: sobre a clareza na informação

Como historiador, aprendi que uma fonte não deve ser tratada de forma isolada. Ela deve ser colocada num contexto e cada fragmento deve ser analisado à luz do interesse de quem a criou. De forma similar, aplicando essa premissa aos princípios da comunicação, uma mensagem não deve ser analisada somente à luz do seu emissor, mas, principalmente, na perspectiva do receptor. Há momentos em que julgamos que nossas mensagens são claras e inequívocas, mas para o receptor podem ser objeto de dúvidas e angústias.

Faz inveja a linguagem da diplomacia. Em momentos de grande tensão, podem ser reafirmados princípios sem se colocar “lenha na fogueira”. Na outra direção, o discurso “low profile” busca a refrear a euforia de uma vitória retumbante por meio de uma mensagem conciliadora que chega aos ouvidos dos derrotados como um bálsamo. Uma mensagem dura pode ser enviada por gestos: em meio às turras com a espionagem dos EUA, a diplomacia brasileira mandou um recado duro ao destacar diplomatas do “segundo escalão” para o almoço de despedida do embaixador Thomas Shannon. Por mais que o ex-embaixador seja uma pessoa cordial, o recado foi enviado ao Departamento de Estado norte-americano.

Neste momento de balanço e reflexão por conta das festas de final de ano, é importante refletir sobre a força das palavras. Aos ouvidos calejados pela dor, uma palavra amiga pode ser compreendida como zombaria ou menosprezo. Aprendi recentemente que devo ler e reler uma mensagem e escolher melhor as palavras para que elas cheguem aos ouvidos do interlocutor com a pureza que a gente imagina ter.

Viola Enluarada, de Marcos Valle nos faz refletir sobre isto, a mesma mão que toca o violão pode empunhar um punhal:



Viola Enluarada

A mão que toca um violão
Se for preciso faz a guerra,
Mata o mundo, fere a terra.
A voz que canta uma canção
Se for preciso canta um hino,
Louva à morte.
Viola em noite enluarada
No sertão é como espada,
Esperança de vingança.
O mesmo pé que dança um samba
Se preciso vai à luta,
Capoeira.
Quem tem de noite a companheira
Sabe que a paz é passageira,
Prá defendê-la se levanta
E grita: Eu vou!
Mão, violão, canção e espada
E viola enluarada
Pelo campo e cidade,
Porta bandeira, capoeira,
Desfilando vão cantando
Liberdade.
Quem tem de noite a companheira
Sabe que a paz é passageira,
Prá defendê-la se levanta
E grita: Eu vou!
Porta bandeira, capoeira,
Desfilando vão cantando
Liberdade.
Liberdade, liberdade, liberdade...

Para os meus amigos, espero que minhas palavras sejam o mais perfeito invólucro de minhas ideias. Pois para meus amigos, só tenho o desejo de coisas boas, justas e sinceras.

Tudo de bom em 2014!

Nenhum comentário:

Postar um comentário