domingo, 29 de dezembro de 2013

ALUNOS SE PREPARAREM PARA AS AULAS, ISSO É MESMO UM MÉTODO MADE IN USA?

Abaixo republico um texto extraído do jornal Folha de São Paulo sobre um "novo método" de ensino em que os estudantes universitários já venham para a aula preparados, com a leitura prévia de textos. O papel do professor, nesse caso, seria apenas de coordenar os debates, buscando levar os alunos à reflexão. Se isso é feito em forma de círculos, colmeias ou coisas assim, não importa. Onde isto é novidade? Não é uma questão de método, é uma questão de postura.

O fato é que a qualidade dos alunos de instituições de ensino superior, os da Unesp, INCLUSIVE, é sofrível. Conservei com alguns alunos de haviam retornado de intercâmbio na França e eles me disseram que em Lille a carga de leitura era pesada. Pois bem, perguntei a eles, e aqui não é? O problema é que aqui vocês não leem texto algum, respondi a eles. Nessa conta de mediocridade, grande parte de meus colegas professores apenas assistem passivos a essa situação, talvez até eu mesmo, em algum momento... isso quando não são cúmplices desse crime contra a sociedade.

Se o professor lecionar numa instituição privada e cobrar leitura prévia dos alunos e se esses se revoltarem contra o método "mágico", o professor não dura até o final do semestre. Instituições privadas gostam de clientes satisfeitos, mesmo que saiam néscios de suas salas de aula.

O Brasil é o país do "faz de conta". Como podemos ser dinâmicos e líderes em pesquisas científicas e tecnológicas se a qualidade moral de nosso povo, em grande parte, deixa a desejar? Como formar um grande especialista em Relações Internacionais se, na prática, ele não estuda mais do que três horas por dia se fizer o curso no horário noturno?

Não me canso de falar para meus alunos: independentemente do que eles fizerem ou souberam, o mundo deles estará garantido por conta de sua origem familiar, da cor da pele e da textura do cabelo. Como são brancos de classe média e estudaram em colégios particulares, já possuem a rede de relações que irá garantir a sua existência de maneira bem melhor do que a da massa da população brasileira que, diga-se de passagem, também não "boa bisca", como diria a operária italiana, já que tem as mesmas características morais da elite que a detesta, com raras exceções.

Leiam o texto da Folha:


Faculdades privadas modernizam aulas com método dos EUA
Algumas instituições brasileiras têm trocado a tradicional exposição do professor pelo debate entre alunos em sala

Formato inspirado nas aulas da Universidade Harvard (EUA) deve se espalhar pelo país, dizem educadores

FÁBIO TAKAHASHI
DE SÃO PAULO
Estudantes em filas, professor à frente, explicação na lousa ou no projetor. É tudo que algumas faculdades particulares têm buscado evitar em seus cursos de graduação.

Há pouco mais de um ano, ao menos quatro instituições brasileiras adotaram metodologias em que os estudantes precisam ler textos ou ver vídeos antes das aulas, para terem um conhecimento básico prévio do conteúdo.

Nas aulas há debates entre os alunos, e não a convencional exposição do professor. A tradicional escola Belas Artes de São Paulo foi uma das que adotou o método.

Educadores afirmam que o formato, inspirado em aulas da Universidade Harvard (EUA), deve se espalhar pelo país, ainda que haja dificuldades de implementação.

Na nova metodologia, ao professor cabe apresentar temas a serem debatidos e acompanhar se as conclusões dos alunos caminham para a direção correta.

Os alunos são distribuídos em mesas redondas de oito lugares cada uma, em geral. O grupo deve apresentar resposta a uma pergunta posta pelo docente --que conduz as discussões até que todos saibam a alternativa certa.

Um dos métodos, chamado "peer instruction" (formação por pares), foi criado pelo professor Eric Mazur, que leciona física em Harvard.

Ele estava incomodado com o fato de que poucos docentes conseguiam prender a atenção dos estudantes por uma aula inteira --problema que atinge cursos superiores no mundo todo.

Pesquisas de Mazur mostram que, com o novo formato, os alunos fixam melhor conteúdos e ganham capacidade de resolver problemas.

ATUALIZAÇÃO

"As aulas precisam ser mesmo atualizadas", disse o consultor de ensino superior Roberto Lobo, ex-reitor da USP. "Mas os temas a serem abordados devem ser bem administrados, senão, os alunos ficam com lacunas".

Diretor acadêmico da Unipac (MG), Gustavo Hoffmann afirma ser essencial, no novo formato, que o aluno se prepare antes das aulas. "No modelo tradicional, os professores até podem pedir leitura prévia. Mas a aula ocorre normalmente se o aluno não se preparar", afirma.

"No novo modelo, não se consegue debater algo sem que você tenha uma base."

O preparo prévio exige cerca de uma hora por dia do aluno. Os cursos são presenciais, ou seja, ao menos 80% da carga horária tem de ser cumprida na faculdade.

"No começo, ficamos preocupados", disse José Augusto dos Santos Dias, 23, que teve a nova metodologia em algumas matérias do curso de direito da Unisal (Lorena-SP). Um dos conteúdos que ele estudou no sistema foi quais recursos poderiam ser impetrados para cada decisão judicial. "No final, gostei."

A inclusão da nova metodologia nas grades curriculares varia entre as faculdades. As mesmas instituições também têm adotado outras modalidades parecidas ao "peer instruction", como a resolução de problemas.

Neste caso, o professor apresenta um problema real, enfrentado por uma instituição, e os alunos têm de apresentar soluções. Depois, compara-se com a solução adotada no caso concreto.

"A ideia é evitar que o aluno vá para a aula apenas para ouvir o professor. Hoje, ele deve ser ativo", disse Marcilene Bueno, da área de novas metodologias da Unisal.




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