sexta-feira, 30 de agosto de 2013
MÉDICOS E AS CORPORAÇÕES DE OFÍCIO
A criação de uma economia capitalista não foi obra da mão invisível, mas de um projeto político da burguesia em eliminar todas as resistências à mercantilização da vida social. No alvorecer capitalismo, as corporações de ofício foram derrotadas liberando o mercado de qualquer restrição. Antes, se alguém quisesse vender um produto numa determinada cidade ele deveria ser membro de uma corporação, por exemplo, a dos sapateiros de Londres, e eram proibidos os descontos ou as inovações técnicas que não fossem autorizados pela corporação.
Do ponto de vista dos associados, a corporação foi muito importante, pois evitou a concorrência e a queda nos preços dos produtos. Poderia existir um sapato mais barato e de melhor qualidade em Kent, mas os produtores de lá não podiam vender fora de seu mercado. Pior para os consumidores, que eram forçados a comprar o sapato de Londres sem poder escolher o melhor preço e qualidade.
Quando observamos a atuação das entidades médicas no Brasil, como o Conselho Federal de Medicina e a Associação Médica Brasileira, é impossível não interpretar suas posturas como a de uma corporação de ofício que busca defender seus associados sem se preocupar com seus “clientes”. Duas atitudes saltam aos olhos: a restrição à ampliação dos cursos de medicina no Brasil e a proibição velada para que médicos de outros países trabalhem no Brasil. Digo isto porque se o exame “Revalida” fosse aplicado no Brasil para os formandos da maior parte das Faculdades de Medicina, teríamos uma tragédia do tamanho da OAB. Resultado, a relação médico por habitante no Brasil é metade da média europeia.
Talvez os médicos estejam certos em defender o seu quinhão. Se os professores universitários limitassem a formação de novos doutores talvez nosso salário fosse bem melhor, pela escassez de doutores. Mas aí pergunto: seria melhor para a sociedade? Se a oferta é grande, pode-se escolher entre os ótimos, bons e medíocres... Mas se a oferta é menor do que a demanda, muitos médicos incompetentes acabam tendo mercado, justamente atendendo as pessoas mais pobres que não têm opção.
Publicado no Jornal Bom Dia Marília em 04/08/2013
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